Seja por meio de celular,
computador ou TV via satélite, as diferentes tecnologias já fazem parte do dia
a dia de alunos e professores de qualquer escola. Contudo, fazer com que essas
ferramentas de fato auxiliem o ensino e a produção de conhecimento em sala de
aula não é tarefa fácil: exige treinamento dos mestres. A avaliação é de
Guilherme Canela Godoi, coordenador de comunicação e informação no Brasil da
Unesco, braço da ONU dedicado à ciência e à educação. “Ainda não conseguimos
desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer
uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam
ser úteis no ambiente educacional.” O desafio é mundial. Mas pode ser ainda
mais severo no Brasil, devido a eventuais lacunas na formação e atualização de
professores e a limitações de acesso à internet – problema que afeta docentes e
estudantes. Na entrevista a seguir, Godoi comenta os desafios que professores,
pais e nações terão pela frente para tirar proveito da combinação tecnologia e
educação.
Qual a extensão do uso das novas tecnologias nas escolas brasileiras?
Infelizmente, não existem dados
confiáveis que permitam afirmar se as tecnologias são muito ou pouco utilizadas
nas escolas brasileiras. Censos educacionais realizados pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que a maioria das escolas
públicas já tem à sua disposição uma série de tecnologias. No entanto, a
presença dessas ferramentas não significa necessariamente uso adequado delas. O
que de fato se nota é que ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva
metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de
tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente
educacional.
Quais devem ser as políticas públicas para incentivar as tecnologias em
sala de aula?
Elas precisam ter um componente
fundamental de formação e atualização de professores, de forma que a tecnologia
seja de fato incorporada no currículo escolar, e não vista apenas como um
acessório ou aparato marginal. É preciso pensar como incorporá-la no dia a dia
da educação de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta a
construção de conteúdos inovadores, que usem todo o potencial dessas
tecnologias. Não basta usar os recursos tecnológicos para projetar em uma tela
a equação “2 + 2 = 4”. Você pode escrever isso no quadro negro, com giz. A
questão é como ensinar a matemática de uma maneira que só é possível por meio
das novas tecnologias, porque elas fornecem possibilidades de construção do
conhecimento que o quadro negro e o giz não permitem. Por fim, é preciso
preocupar-se com a avaliação dos resultados para saber se essas políticas de
fato fazem a diferença.
As novas tecnologias já fazem parte da formação dos professores?
Ainda é preciso avançar muito. Os
dados disponíveis mostram que, infelizmente, ainda é muito incipiente a
formação de professores com a perspectiva de criação de competências no uso das
tecnologias na escola. Com relação à formação continuada, ou seja, à
atualização daqueles profissionais que já estão em serviço, aparentemente nós
temos avanços um pouco mais concretos. Há uma série de programas disponíveis
que oferecem recursos a eles.
Para os alunos, qual o impacto de conviver com professores ambientados
com as novas tecnologias?
As avaliações mais sólidas a esse
respeito estão acontecendo no âmbito da União Europeia. Elas mostram que a
introdução das tecnologias nas escolas aliada a professores capacitados têm
feito a diferença em alguma áreas, aumentando, por exemplo, o potencial
comunicativo dos alunos.
As relações dentro da sala de aula mudam com a chegada da tecnologia?
O que tem acontecido – e acho que
isso é positivo, se bem aproveitado – é que a relação de poder professor-aluno
ganha uma nova dinâmica com a incorporação das novas tecnologias. Isso acontece
porque os alunos têm uma familiaridade muito grande com essas novidades e podem
se inserir no ambiente da sala de aula de uma maneira muito diferente. Assim, a
relação com o professor fica menos autoritária e mais colaborativa na
construção do conhecimento.
É comum imaginar que em países com um alto nível educacional a
integração das novas tecnologias aconteça mais rapidamente. Já em países em
desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas vezes o professor tem uma formação
deficitária, a incorporação seja mais lenta. Esse pensamento é correto?
Grandes questões sobre o assunto
não se colocam apenas para países em desenvolvimento. É o caso, por exemplo, de
discussões sobre como melhor usar a tecnologia e como treinar professores. O
mundo todo discute esses temas, porque essas novas ferramentas convergentes são
um fenômeno recente. Porém, também é correto pensar que nações onde as pessoas
são mais conectadas e têm mais acesso a dispositivos devem adotar a tecnologia
em sala de aula de modo mais amplo e produtivo. Outro fenômeno detectado no
mundo todo é o chamado “gap geracional”, ou seja, os professores não nasceram
digitalizados, enquanto seus alunos, sim.
O senhor vê algum tipo de resistência nas escolas brasileiras à
incorporação da tecnologia?
Não acredito que haja uma
resistência no sentido de o professor acreditar que a tecnologia é maléfica,
mas, sim, no sentido de que ele não sabe como utilizar as novidades. Não se
trata de saber ou não usar um computador. Isso é o menor dos problemas. A
questão em jogo é como usar equipamentos e recursos tecnológicos em benefício
da educação, para fins pedagógicos. Esse é o pulo do gato.
Quais os passos para superar a formação deficitária dos professores?
A Unesco
sintetizou em livros seu material de apoio, chamado Padrões
de Competências em Tecnologia da Informação e da Comunicação para Professores. Ali, dividimos o aprendizado em
três grandes pilares. O primeiro é a alfabetização tecnológica, ou seja,
ensinamos a usar as máquinas. O segundo é o aprofundamento do conhecimento. O
terceiro pilar é chamado de criação do conhecimento. Ele se refere a uma
situação em que as tecnologias estão tão incorporadas por professores e alunos
que eles passam a produzir conhecimento a partir delas. É o caso das redes
sociais. É importante lembrar que esse processo não é trivial, ele precisa
estar inserido na lógica da formação do professor. Não se deve achar que a
simples distribuição de equipamentos resolve o problema.
Nathalia Santos
Pedagogia 1 semestre
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